sexta-feira, 13 de abril de 2007


OUTRA CANÇÃO


A canção que escrevo
Não é bela nem feia,
Não é de sol nem de chuva,
É triste em qualquer dia,
Em qualquer estação.

Canção que não se diz,
Que não se canta,
Que não se declama,
Mas que se inscreve
Na veia fina do coração,
Na lápide fria dos ausentes.

A canção que escrevo
É a mesma que se sente
Na cólera,
Na ira dos condenados,
No ósculo de traição,
Na ingestão do veneno
E do antídoto.

Canção fúnebre e carnavalesca,
Máscara de Arlequim,
Punhal manchado de sangue,
Grito silencioso,
Música das horas interrompidas.

quinta-feira, 12 de abril de 2007


ATO DE ESCREVER



Eu escrevo

Como quem se suicida.

Como um tuberculoso:

escarrando mágoas.

Eu escrevo

como um filho faminto

que chora de madrugada

sobre o peito da mãe morta.

Como quem revê velhas cicatrizes.