sábado, 4 de agosto de 2007


ACOSTUMAVA

ACOMPANHAR O CIRCO.

UM DIA

ACOMPANHOU

MEU CORAÇÃO.

sexta-feira, 13 de abril de 2007


OUTRA CANÇÃO


A canção que escrevo
Não é bela nem feia,
Não é de sol nem de chuva,
É triste em qualquer dia,
Em qualquer estação.

Canção que não se diz,
Que não se canta,
Que não se declama,
Mas que se inscreve
Na veia fina do coração,
Na lápide fria dos ausentes.

A canção que escrevo
É a mesma que se sente
Na cólera,
Na ira dos condenados,
No ósculo de traição,
Na ingestão do veneno
E do antídoto.

Canção fúnebre e carnavalesca,
Máscara de Arlequim,
Punhal manchado de sangue,
Grito silencioso,
Música das horas interrompidas.

quinta-feira, 12 de abril de 2007


ATO DE ESCREVER



Eu escrevo

Como quem se suicida.

Como um tuberculoso:

escarrando mágoas.

Eu escrevo

como um filho faminto

que chora de madrugada

sobre o peito da mãe morta.

Como quem revê velhas cicatrizes.

quinta-feira, 29 de março de 2007




ENSAIO DA MORTE


Ele mora
no vigésimo andar,
e em noites tempestuosas,
ele pensa em se atirar.
A traição
lhe deixou um coração ferido
e uma vontade estranha
de morrer pelas entranhas.
Seu pai
calcula os lucros do dia,
sua mãe toca piano,
sua irmã, no banheiro,
ensaia passos de dança...
Ele trancado no quarto,
se envenena com ácidos e calmantes.
Discos e livros na estante.
A tartaruga alimentada,
plantas regadas.
Rituais do dia, cumpridos.
Tudo em ordem,
e um coração ferido.
Ele mora perto do céu,
na solidão do seu quarto,
onde os anjos nem a luz
vêm lhe visitar.
Ele está só,
e seu pai calcula os juros do dia.
Sua mãe toca sem culpa.
E sua irmã, no banheiro,
a bailar,
a bailar,
a bailar,
a bailaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaar

quarta-feira, 28 de março de 2007


TRAMA


Na trama do silêncio
A aranha tece a teia.

Na trama da palavra,
O poeta tece o verso.

Na trama da noite
Os pervertidos
Inventam gozos.

Na trama da vida
O homem inventa
A armadilha.



PRA NÃO ESQUECER


Quando fores embora,
leva os discos,
os sapatos,
a velha máquina de escrever,
e dá um jeito de caber na mala
todo amor que não me deste.

SOLDADINHO DE CHUMBO

O amor,
árvore frondosa, frutífera,ainda em flor,
em plena primavera
tombou ao corte do machado do traidor.
Suas flores manchadas de sangue
bailaram no espaço da dor.
Tudo cessou, pássaros, manhã, formigas.
E do amor, sem seiva, sem raiz, sem força
pensou-se que nada restaria.
Infeliz machado afiado da traição
que no tronco robusto, sua lâmina fincou!
Seus braços que acariciavam,
feitos galhos que acolhem pássaros,
na fogueira queimaram.
Nas labaredas o amor derreteu-se,
tornou-se cinzas.
Depois de muito tempo,
encontraram entre restos de troncos queimados
um fruto vermelho em forma de coração
que ainda pulsava.

terça-feira, 27 de março de 2007

SACRÁRIO



Num cantinho da alma

há um raio de sol que guardei pra ti.

Uma asa de borboleta de uma infância antiga,

um besouro empalhado de uma tarde ensolarada.

Uma réstia de luz

quando ainda era quase noite num dia de inverno.

Há nesse cantinho,

uma canção de passarinho

que morreu cantando por amor,

com o coraçãozinho espetado no espinho de uma rosa vermelha.

Há um caminho estreito e florido

pra nós dois passearmos num dia de primavera.

E num pedacinho de um céu azul,

pipas coloridas dançam ao assovio do menino.

E tem um girassol dourado.

Tem uma palavra que nenhum poeta descobriu.

Tem um olhar sereno te olhando ternamente.

Ah, e tem também um lenço...





AVISO AOS DE FORA



Deixem que minha vida siga em passos lentos

como o velório que sobe a ladeira.

Que meus dias

desfraldem remendados

como os trapos dos varais da pobreza.

De mim não queiram nada,

a não ser a poesia calma,

plantada nesses olhos tristes.

Deixem que a minha vida tome o seu rumo.

O rumo do rio que segue o mesmo leito sempre,

mas nunca é o mesmo por onde passa.

Em minha aldeia vivem homens descrentes da vida

e meninos embalados pela canção da esperança

de uma vida que se renova sempre.


POSIÇÃO


Eu me coloco no mundo


como se colocam os bichos,


as árvores, os insetos,


os besouros e formigas.


As pedras, o vento, o silêncio...


( que silêncio?)


Sou parte dele.


Faço parte da sua unidade,


mais um elemento,


não importando se pensante ou não.


Pra mim, tudo que respira, pensa, sente.


Enjaulados estamos todos nós


nesse universo de mistérios.


Não há verdade absoluta que pertença a alguém.


Se alguém sabe, ainda não me disse,


ou ainda não me convenceu dela.


Eu amo os bons e os maus,


pois ninguém é absolutamente só alguma coisa.


Vivo pra correr todos os riscos,


pra assumir todas as culpas,


pra sofrer com todos os sentimentos...


Pra me dilacerar sempre


e me recompor sempre.


Se ninguém sai vivo daqui, que saiamos então


repletos de poesia, de amor,


de pedaços de tantos outros que nos compõem.


Eu sou todo mundo pra ser eu mesmo,


e na catedral infinita do universo,


me ajoelho e saúdo todos os bichos,


todas as coisas, todos os rios, todos os peixes,


todas as PESSOAS

segunda-feira, 26 de março de 2007




RECADO

Aos desavisados,


aos que não trazem nem rosas


nem poesia,


nem bomba,


nem maestria.


Aos vazios de peito, de alma,


de atrocidades e bondades.


As almas penadas, depenadas,


achatadas nas esquinas da vida alheia...


Aos coveiros de vivos,


as rapinas estripadoras de corações...


Aos cegos sem nenhum gosto nos olhos.


Aos cruéis, infiéis, menestréis da canção alheia...


Aos outros, esses que se alimentam de indiferenças,


me deixem em paz no meu pasto de burro,


na minha poesia de pedra,


na minha vidinha sem novidades,


no meu sexo sem véus,


no meu existir sem perdão.


Deixem-me que a minha vida é curta


e eu não tenho tempo pra alimentar


covardia e banalidades.

VIA-CRUCIS




Eu padeci alí na cruz do teu esquecimento,

coroado pelos espinhos do teu amor cruel,

crucificado no teu egoísmo,

amortalhado no sudário do teu descaso.

Via-crucis dos teus enganos percorri.

Carreguei o peso dos teus silêncios...

E por amor a mim,

ressuscitei-me livre de ti.

FORA DO CONTEXTO



Meu computador

Não reconhece a palavra oxente.

Não tem sugestão ortográfica

Para o termo “raio da silibrina”.

Desconhece as palavras rapadura,

Serrota, jumento, juá...

Sim, folha de juá, aquela com a qual

Minha mãe escovava os dentes.

Não sabe o que é pote, cacimba,

Candeeiro, quenga, cangalha,

Forquilha, maravalha.

Para a palavra arrodilha,

Pasmem!

Ele sugeriu “ arrolha ”

Mas que diabo é arrolha?

Arapuca, então, ele grifou

Com um vermelho mais forte.

E eu que pensava que o Nordeste

Estava inserido no contexto da globalização,

Senti-me DELETADO!


( publicado na Agenda da Tribo- SP 2007)




MANHÃ DE PEDRA


Desperta manhã!
Dura, lenta, mórbida,
Doída feito as mãos que já não te colhem.

Desce dos arrebóis
Das entranhas da noite,
Que meu amor já não vinga.

Desperta manhã!
Feito asas feridas, desperta.
Feito feto abortado, desperta.

Já é tarde
E meu coração fez-se pedra.
E o amor que se erguia feito girassol,
Perdeu as pétalas,
Murchou em tantas noites de descrenças.

Desperta manhã!
Revela meu coração em chagas,
Meus pulsos cortados,
O amor que morre lentamente por amor.

MARIA





De tão leve,

engravidou-se

de si mesma,

num repouso

de pouso leve

de pomba.

Púmbleo

fe-se o divino

nas suas entranhas de virgem.

E de tão pura

fez-se santa

para que o milagre,

do céu, descesse.

O verbo leve

fez-se carne,

ser iluminado.

ABRIGO DA MORTE



E a morte abrigará teu corpo.

E serás dela abrigo confortável.

Ela caberá perfeitamente

Em todos os teus cômodos.

E te fará morada sem receio,

Sendo ela a tua própria morada.

Abrigará tuas unhas,

Tua epiderme,

Dentro dos teus olhos que já não se abrem,

Entre teus dentes enrijecidos .

Em todo o teu corpo.

E a morte ficará ali, na decomposição da tua carne.

Junto ao teu esqueleto,

Junto ao teu último fio de cabelo,

Inseparadamente

No leito sepulcral onde dormirão tuas ilusões...

E a morte se fará viva em teu corpo morto.

Em tuas fotografias de homem morto.

Em tuas roupas de homem morto.

Em teus livros de homem morto.

Nas histórias de um homem morto...

domingo, 25 de março de 2007


LÂMINAS


Estrela de cinco pontas,

espada de Xangô,

lança de São Jorge,

cortai nessa noite os meus pulsos!

Arrancai de mim essa alma insana,

prisioneira do amor.

Furai meus olhos!

Dissipai meus sentidos!

Cortai em dois,

meu coração!

Trespassai meu peito,

para que nele adormeça essa dor.

TROPEL ALUCINADO


( 3º Lugar no Concurso Grandes Escritores da Bahia- Literis Editora - RJ )



Vai.

Vai tempo, embora.

Vai que já não tenho hora.

Vai.

Arrasta-me para o asilo

onde expõe tuas obras perfeitas.

Corre além dos ponteiros,

que meu coração é um relógio

que já não pulsa.

Sepulta bem distante a criança que não fui.

Carcoma os versos que não fiz.

Enferruja o tempo de minha geração dissipada.

Vai tempo.

Amadureça a história dos homens.

Vai, que sobre tia morte galopa

num tropel alucinado.

DA EXISTÊNCIA DE DEUS



Possa ser que Deus exista

em forma de beija-flor,

sugando o néctar envenenado das flores do mal.

Quem sabe,

ele não seja um rio que nunca é o mesmo,

onde se banham os devassos?

Possa ser que seja uma pedra,

bicho, flor, libélula, caracol,

uma andorinha sozinha

num dia de verão.

Quem sabe

Deus não seja um poeta

escrevendo certo em linhas tortas

versos de solidão?

Possa ser que Deus EXISTA!

ONDE SE ESCONDE



Solidão

Doendo dentro,

Bem dentro... ... ...

Onde se esconde a ausência.

Solidão Doida,

Doída,

Lá na saída

Por onde você fugiu.

Solidão roendo

Lá dentro,

Bem dentro,

O último osso da ausência.

PORTA ELETRÔNICA



A porta travou quando o neguinho ia passando.

- Deposite aí qualquer objeto de metal,

chave, celular, gilete, navalha,

RG,CPF comprovante de vacina...

E o neguinho não entendeu essa sua sina.

E o neguinho mesmo tendo tirado

meia, sapato, calça, camisa, patuá,não conseguiu passar.

Foi quando alguém gritou:

- Tire a pele neguinho!

Tire a pele neguinho!

Quem sabe assim você não consegue passar no vestibular?!

Subir pelo social?

Levar menos soco no carnaval!

Ser menos abordado pela polícia!

Ser menos um número nas estatísticas do crime social,

Aparecer vivo na coluna policial!

Arranque a pele neguinho!

Arranque a pele neguinho!

CÍCLICO


Flores morrendo

envenenadas de sol

Dias abismais

rolando em arrebol.

Manhãs desesperadas

paridas por noites longas,

e o tempo fazendo museus...

100% COLORIDO



Eu sou mais maluco

do que mameluco

mais confuso

do que cafuzo

mais do mato

do que mulato

mais manco

do que branco

mais interessantemente

COLORIDO

do que pardo.

METADE


( para Luciana Verdena)


Os covardes nos amarão pela metade.

E os tolos aceitarão suas rosas murchas,

seus dias insalubres,

seu carinho pela metade,

suas desculpas de farpas,

seu medo de arriscar,

seus desejos retraidos.

Sim.

E nos amarão pela metade

os que têm medo de navegar em nossa alma,

em nossa poesia nem sempre lírica.

E os covardes nunca serão também amados por inteiro,

porque eles sempre serão metade:

metade compreensão,

metade amigo,

metade confiança,

metade ...

como se existisse meio- termo para amar.

Ou se ama,

ou se engana.

E enganados são os que nos amam pela metade.

BANQUETE ÍNTIMO



AMAR É COMER

E SERCOMIDO

E DEPOIS DE SACIADOS,

CHUPAR O ÚLTIMO

OSSO.

OUTRO AMOR



Meu amor é selvagem,

pedra a ser lapidada,

mas doce e delicado

no compasso do peixe

singrando outros rios.

Meu amor vai e vem

como as chuvas

trazendo sempre um novo sol,

por entre as folhagens da minha janela.

Meu amor

que não é só meu,

passarinho sozinho na selva de pedra

me tem num olhar acolhedor,

em afagos vagos,

em cigarros partilhados,

em conversassões transcendentes,

em risos soltos de palhaço ainda menino.

Nos temos num pouco

de uma vida vasta de sonhos.

Meu amor

tem a sua vida

fincada em minha poesia

nem sempre lírica.

E no palco onde atuamos

contracenamos o oposto dos iguais

SAUDAÇÃO AO AMOR QUE AGONIZA



Bom dia solidão de concreto armado!

Fios de alta-tensão,

casas blindadas,

asfalto quente

dessa dura cidade.

Meu amor agoniza.

E triste agora

é essa rua de árvores tímidas,

de gente indiferente à minha dor.

Bom dia,

sol desse céu de querosene!

Sirenes aflitas

que levam o amor que agoniza.

Que esse sol

de raios ultra-violeta,

aqueça suas chagas de câncer.

sábado, 24 de março de 2007

ALUGA-SE UM HOMEMA

Aluga-se um homem.

Com muitos cômodos

E um incômodo coração.

Localizado ao lado direito do peito,

Perto da emoção e tão distante da razão.

Um super-homem aposentado,

Um ser lindo e alquebrado.

Aluga-se.

Com muitas cicatrizes

E muitas janelas que dão

Para um ensolarado horizonte.

Com muitos cômodos

E um infinito corredor

Por onde vaga a solidão.

Aluga-se um homem.

Um menino que chora escondido,

Um poeta revolucionário

Dentro de um corpo franzino.

Aluga-se.

Um homem nu,

Despido de tantas normas,

De tantos conceitos,

De tantos medos.

Com apenas as asas da liberdade

Lhe cobrindo o sexo.
Que sexo?

Aluga-se.

Por um preço de noite estrelada,

Por um preço de lua

Estampada na poça d`água,

Por um preço de amor de mãe,

Por um preço de liberdade...

Aluga-se



Mas o que virá na subjetividade


Do imprevisível,


Quebrar minhas vidraças,


Rasgar minhas sedas,


Envenenar meu café,


Além deste sol


Que revela minhas mentiras


E arranca minhas máscaras


Com os seus raios afiados


Feitos navalha de puta?

quinta-feira, 22 de março de 2007




POETA SENIL

Um dia eu serei um poeta velho,
cansado da palavra,
mas cheio de poesia
guardada nos pés de tantos caminhos porque passei;
Cheio de nostalgias,
sentado na frente de uma casa do interior,
a sentir o vento, sem pressa, quase sem piscar.

Um poeta de cabelos brancos
e alma repleta de besouros, formigas:
lembranças vãs de um tempo fugídio.
E e correrão por mim, regatos mansos,
cantarão passarinhos,
e farão ninhos em meus cabelos,
delicados sabiás.

Um poeta cansado da palavra,
mas pleno de uma poesia
que já se inscreveu no meu corpo,
nas marcas de minhas mãos,
nas rugas do meu rosto,
na curvatura da coluna,
na insustentável leveza
de um ser de passos trópegos.

Um dia eu serei um poeta velho,
e haverá de brotar em mim,
frutos de um pomar que reguei
durante toda vida.

Viverão em mim
crianças encantadas numa noite de São João,
velhas fogueiras de um tempo frio...
E todos verão em meus olhos
a fina flor do existir,
desfraldando na saudade
de um tempo perpetuado em mim.

POSSE

Quem me tem,
há de ter também a poesia,
o valor das coisas pequeninas,
a dor do final do dia que se despede.

Quem me tem há de ter também
o gosto da solidão que escreve o verso,
o olhar calado, maravilhado diante do amanhecer.

Quem me tem há de ter também a estranheza do existir,
o vazio que arrebata a vida para dentro de si.
Há de trazer nos olhos o gosto pelo belo,
a incerteza do caminho,
mas a vontade do caminhar.
CoNFusÃo MaMBemBe

PuTRefAtoS
ArTEfaTos
AbSTraTos
ReTRaTos
Do ArtiSta
QuanNdo BiCHo
MaLtraTos
PaRLapaTos
TaNTos sApaTOs
E nENhuM
lUgAr pRa iR.
BuFõEs,
AnõEs,
CoNFusõEs
no aNFiteaTro do CoraÇão.

DESCAMINHOS DO AMOR

Que os caminhos
não te tragam de volta.

Que todas as navalhas
cortem as lembranças
boas e ruins.

Que o tempo
nos afaste pra bem longe...

Que bem distante
fique o corpo sentimental.

E minhas mãos se petrifiquem
pra que não escrevam
mais versos pra ti.

Que a morte
faça morrer o que já havia morrido
por amor.

Que tudo finde:
risos e cicatrízes.
E que o amor nunca mais
se insinue tão belo, tão frio, tão atroz...

quarta-feira, 21 de março de 2007


ESPELHO DE NARCISO


Procurei-me
em teu espelho
e vi Narciso morto,
e já era feio
o que antes reluzia
a poesia do encantamento.

E eu ali não me refletia
tal qual em outra luz
de outro dia.
Era apenas o pó
de uma imagem
que já não havia.

E nos teus olhos
onde por um tempo habitei,
nada de mim ficou,
nada de mim,
do que era amor,
brotou naquele reflexo
de lança afiada.

O engano da poesia
se cristalizou
no espelho de tantas mentiras.
E Narciso furou os olhos,
maculando a imagem
agora feia, torpe,
do que um dia chamamos amor.
movimento de disse...
Ai meu amigo! Quanta dor! Ser poeta, ator, pintor e viver nesse mundo tão besta! Diga Chega!!! Você merece é a Solidão Pop do holofotes. Com certeza vai ser uma publicação e tanto. Estarei na 1ª fila de autógrafos.

E ERAM ELES OS CIVILIZADOS

TUDO LÁ FORA
PROGREDINDO,
RUINDO,
NUM INDO E VINDO
DE MODA
DE CONCEITOS,
DE GLOBALIZAÇÃO,
NEOLIBERALISMO,
GUERRAS,
CORRUPÇÃO...
E EU AQUI DENTRO,
ÍNDIO RINDO!


DISSIMULACRO

Sou eu o palhaço
do circo incendiado pelo amor.
Sou eu o animal enjaulado,
chicoteado pelos carinhos atrozes do domador.
Sou eu amante cego
esperando que atirem em meu peito todas as facas.
Sou eu o equilibrista na corda-bamba dos pseudos amantes.
Batam palma!
Assoviem!
Ovacionem o otário,
pois sou eu o macaco ridículo
a fazer macaquices,
para que o amor nunca se esqueça de rir

PARA SEMPRE


Beijava meus lábios
Como quem beijava uma lápide fria.
E dormia sobre o meu corpo
Depois do gozo como quem morria.
Tinha um cheiro funesto,
Na boca um gosto de desespero.
Eram ásperas as suas carícias...
Era calmo e desabitado de si mesmo.
Era todos os avessos.
Dormia em todas as camas
Mas era na minha que sonhava.
Navegava por toda a cidade
Mas era na minha casa que aportava.
Era de todo mundo e só a mim juravas amor.
Desaparecia no verão
E no inverno sob os meus lençóis
Adormecia de frio.
Era um pássaro carente de ninho.
Tinha os cabelos encaracolados
E um olhar doce, perdido nas incertezas.
Ia e voltava.
Sempre voltava com toda a sujeira
Da cidade.
Um dia deixou-me um retrato 3x4
E foi-se embora...
Para sempre.
A VIDA
MONTA O PALCO
ONDE EU ENCENO O ATO
DE MORRER
PRA VIVER

segunda-feira, 19 de março de 2007




CAVALO MARINHO

Ele tinha um cavalo marinho
tatuado na virilha
e um dragão cuspindo fogo
tatuado no coração.
Era um anjo doce temperamental.
Gostava de orquídeas,
de praia, sexo, droga e rock n`roll.
Beijava-me a boca
e dizia que não gostava de homem.
Mas gostava de meninos e de meninas.
Era agressivo como um tubarão
e delicado como uma borboleta.
Era um golfinho,
um surfista solitário
que ria e chorava com qualquer bobagem.
E tinha um dragão tatuado no coração.

INSTANTE

É bom amanhecer,
entardecer contigo.
Colher estrelas, mornar o pão,
sentar-se à mesa, confabular, te esperar.
É bom dividir a vida, a arte,
o existir com tuas farpas e flores,
com amores e dissabores.
A vida torna-se mais leve,mais calma.
É bom escurecer, dormir, esperar o sol,
soletrar teus olhos, desenhar tua boca no verso,
nas pétalas dessa flor que o amor rega.
É bomter-te no abraço,
no laço fugaz do instante,
em tantos livros,
em tantos versos,
em tantos discos,
no identificável da promessa do amor pra durar.



PASSARINHEIRO

Eu ontem, boi, pastei.
Hoje, passarinho,
passarinhei em outros galhos.
Descobri em mim as asinhas da liberdade,
o canto de outra vontade,
uma árvore tranquila
pro ninho quentinho do meu sossego.
E de mansinho, sem lhe avisar,
voeeeeeeeeeeeeei.............

PEITO ABERTO

Peito aberto:
atirem-me suas pedras,
seus espinhos,
suas frustrações!
A vida é minha:
versos, reversos e borboletas.
Seixo, sexo, pão, medo, horrores, poesia...
Peito aberto:
disparem suas balas,
seus traumas,
seus princípios e seus precipícios de desamor.
Suas palavras que já não me atingem.
A vida é minha.
Pertence-me como me pertence a epiderme.
Tenho uma alma inquieta,
uma história dilacerada
e uma vontade imensa de viver,
de causar redemoinhos!
Todos os meus crimes pratiquei-os
à luz dos olhos de Deus.
De um deus febril,
que dança, que gira, que salta, que brinca.
Brincante humano,
livre daquilo que vocês chamam de religião.

JARDIM DAS DELÍCIAS


Venha ser meu
no engano da promessa do amor
no jardim das delícias.
Perder-se em meus beijos,
entregar-se ao meu corpo numa oração.
Venha morder minha maçã,
acalmar o fruto proibido.
Venha adormecer sua ira
em meus braços,
que eu lhe faço mais menino
no doce jardim das delícias.
Seremos unicórnio e borboleta,
planta, bicho, flor,
ao natural como pede o amor,
sem culpa, sem receio,
rolando, roçando entre flores,
no jardim das delícias.
ASSALTO

Assalto!
Entregue-me seu tédio,
suas frustrações,
suas angustias,
seus medos!!

Entregue-me
aquela velha desbotada
paixão antiga que lhe mantem vivo.

Quero seus defeitos
e cicatrízes.
Suas desilusões,
seus desejos retraídos...
Seus conceitos carcomidos,
suas dívidas.

Assalto!
Entregue-me
sua inveja,
seu desamor,
suas mesmas posições sexuais,
tudo que em você perdeu o valor.
SOLIDÃO POP


A solidão não quer andar de bicicleta
Nem pentear cabelo de boneca.
Quer tomar uma soda pop
Numa lanchonete futurista.
Quer passear de disco voador,
Quer estar em capa de revista.
Quer navegar no computador.
A solidão agora é pop.
Quer amanhecer o dia numa danceteria.
Quer chorar ouvindo IRM,
Quer sair da fossa dançando técno.
Não quer ir ao mercado fazer compras,
Nem passear com cachorrinho.
Não quer ir ao chá das cinco,
Nem ver o pôr-do-sol do Arpuador.
Quer acampar no Everest.
Quer estar só num submarino.
A solidão agora é pop.
Pop star.
Ela quer estar sob holofotes,
Enrolada em plumas e paetês.
Ela quer acampar na lua,
Quer brindar um drink fumaçante
Com um et.
OUTRO CANTO


Deixem-me cantar esse canto,
de todo sentir,
de toda pulsação.
Canto de pássaro ferido,
de amor roubado,
de entranhas dilaceradas.
Abôio íntimo,
suspiro da alma,
uivo de cão morrendo,
choro faminto de criança etíope.
Deixem!
Deixem que eu me devore em meu cantar,
em meu pesar de amor findado.
É o canto das horas tristes,
dos dias cansados,
da esperança fatigada,
da poesia dura que fica depois do amor.
Deixem que em meu canto eu me resolvo,
e me absorvo do pouco que ainda me resta,
réstia de descrença.

domingo, 18 de março de 2007




BANDA VOOU

COSTUMAVA
ACOMPANHAR
O CIRCO...
UM DIA
ACOMPANHOU
MEU CORAÇÃO.....................

PARDAIS

OS PARDOS
PARDAIS
NA TARDE PARDA
SE PADECEM
DA MINHA
PERDA



ROMANCE CIRCENSE


Por tentar
Me equilibrar sempre
Na corda-bamba do teu egoísmo,
Virei equilibrista.
Por tentar segurar
Os nossos sentimentos,
Virei malabarista.
E por estar sempre saltando
Do trapézio das minhas razões
Em vão para os teus braços,
Virei trapezista.
E por tentar melhorar sempre o teu humor
Quando estavas enciumado
Virei palhaço.
E quantas mágicas eu fiz
Pra continuar contigo...
E com os olhos vendados,
Quantas facas atirei
No meu coração
Pra estar contigo...
E agora sozinho,
Montei um circo.

DO AMOR ABSURDO


Meu amor por ti

arromba portas,

grita nos telhados,

envenena os pudorados.

Nega a igreja.

Vai além dos covis dos insensatos,

mancha as seda branca dos puritanos,

ensandece as crianças,

acende a chama dos letárgicos.

Desarma as armadilhas,

rompe os grilhões dos indefesos.

Vai além do que sou, do que domino.

Antecipa a primavera,

quebra os cristais da indelicadeza,

estoura os tímpanos dos surdos,

se inscreve nas lápides dos amantes,

lapida os vitrais da catedral de Chartres.

Meu amor por ti

sai da atmosfera,

amansa a fera,

e dorme na arena junto aos leões.





VIDA MATERIAL

Eu sou da vida que sua ,
que sangra,
que lateja,
que ama,
que perde,
que ganha...
Da vida material
abatida e comida pelos homens
nos açougues mal-cheirosos.
Da mesma vida que rir e chora
nos campos devastados da paixão.
Eu sou da mesma vida do fruto doce,
do fruto podre nos jardins das desilusões.
Da mesma vida que rejeita pérolas
e que mendiga carinho.
Da mesma vida que dança nos palacetes
e rodopia entre abutres nos monturos da pobreza.




IDENTIDADE
( para Paulo Leminsk)

O cara da foto 3 x 4 não sou eu.
Esta digital não me identifica.
Minhas dores,
minha loucura,
meus medos,
não cabem neste pedacinho de papel verde.
Este número não diz que tenho uma alma de artista,
que tenho asas enormes,
que tenho insônia,
que tenho mede de lagartixa,
que sou psicomaníaco-depressivo.
Acreditem!
O que me identifica não cabe em um bolso.
Eu não me comporto em um documento.




DO RIO


O rio da minha aldeia
não passa pelo córregodo seu coração.
Rio bravio,
doce,
sereno,
inventor da poesia de seixos e solidão...
Vai por caminhos
que não cortam o vale do seu sentir.
Cria atalhos,
busca clareiras que só o amor conhece.
Rio de sofrer,
rio de morrer no mar de sua boca seca.



TARDE HOSPITALAR

Tarde lúgubre essa,
em que um anjo de asas mofadas,
toma chá comigo
numa xícara de asa quebrada.
Tarde insone,
fúnebre,
de gatas borralheiras,
e roupas cheirando a naftalina...
Uma bailarina cega rodopia
na minha desilusão de palhaço sem circo.
Tudo que sinto é pouco,
tem o peso do passado...
E bebo na xícara velha o amor já sem gosto.
Tarde de agosto, eu diria,
com sangue suave e lento
rolando nos arrebóis dos jornais.
O anjo é silencioso
como o fio da lâmina que corta o pão duro
dessa tarde que não encontra a noite.

POSSÍVEIS NOTÍCIAS SOBRE A MINHA MORTE

- Morre atropelado o poeta Ivan Santtana.
( os poetas andam sempre distraidos)
- Uma bala perdida encontrou o coração do poeta Ivan Santtana.
( tudo cabe no coração de um poeta)
- Morre na fila de um hospital público o poeta Ivan Santtana
( sua poesia sempre foi marcada por um cunho social)
- Morre picado por um mosquito o poeta Ivan Santtana
( ele sempre viveu picado de raiva por algum motivo)
- Suicidou-se depois de ter descoberto uma traição o poeta Ivan Santtana
( a vida sempre o traiu)
-Morre afogado o poeta Ivan Santtana
( ele sempre viveu afogado em si mesmo)
-Morre amarrando os cadarços do sapato o poeta Ivan Santtana
( ele que era um homem sem nós)
- Morre o poeta Ivan Santtana ao se atirar do vigésimo andar.
( os poetas pensam que sabem voar)





QUANDO CRISTO VIER

Quando Cristo vier
de calça jeans e tênis all star,
pescar seus discípulos na mesa de um bar...
Flertar com Madalenas nas esquinas do Leblon,
e fumar umzinho com os garotos do Trianon...
Vai dizer em alto e bom som,
eu sei o quanto é bom!
Virá bem mais poeta,
bem mais asceta,
com palavra em punho,
numa velha bicicleta...
Quando Cristo vier,
neo-punk, coroado de papoulas,
falando em tupiniquim
num sotaque de botequim,
sobre a luta de poder
em que consiste o existir...
Virá mais resplandecente
com um jeito gay de olhar no olho da gente..
Minha alma excitada por esse homem,
lhe dará um beijo na fronte,
e antes que ele retorne,
meio anjo, meio menina,
eu beberei por suas veias o néctar de sua fonte.